A Forma da Água, de Guillermo Del Toro

shapeofwater

Existe uma teoria dentro do imaginário coletivo no qual diz que todo músico se prepara durante toda sua vida para o seu primeiro disco e o grande desafio de sua carreira na verdade se encontra no lançamento do seu próximo trabalho.

Quando colocamos essa perspectiva no cinema ela se quebra no primeiro momento quando se percebe que o fazer filmes – apesar de todas as influências que os cineastas carregam dos filmes vistos desde sua infância até o começo de suas carreiras – é uma arte progressiva, que evolui na estância dos caminhos que o autor insiste em seguir, e que nem muitas vezes é algo consciente.

Chamar A Forma da Água de um misto de influências e referências poderia ser visto tanto como um elogio quanto como uma crítica. O que Del Toro faz aqui é entregar um filme que mergulha (peço perdão pelo trocadilho) em referências. Mas o que poderia ser sua ruína acaba que se tornando o seu triunfo. A mescla de influências que a obra do mexicano faz acaba se tornando o charme quando percebemos que ele não as usa para inflar o seu ego, mas da forma que ele respeita a história propôs a contar, usando tudo aquilo que ele consumiu desde sua juventude apenas para intensificar o que ele deseja mostrar.

Diferente de alguns diretores que podemos chamar de seus contemporâneos, as influências que permeiam a obra do Del Toro não parecem ser o motivo do seu desgaste. Isso poderia ficar ao cargo de sua notável inocência que parece penetrar em sua direção, mas por sorte consegue se equilibrar entre o preciso e o exagerado.

No entanto, diferente de todas as suas obras anteriores, A Forma da Água se torna um filme notável quando fica claro que o diretor não está diretamente preocupado em entreter o telespectador, e sim contar a história. Não que o papel do cineasta seja de sempre incomodar aqueles que o assistem (Godard discordaria disso, porem é um debate para outro momento), mas os filmes se tornam mais filmes quando o seu autor não está mais preocupado em satisfazer o público do que ser honesto a aquilo que se quer contar.

Se temos o fan service em Círculo de Fogo; a masturbação pessoal em A Colina Escarlate; e a necessidade de ser alegórico em O Labirinto do Fauno; em A Forma da Água encontramos um diretor que ao mesmo tempo que está empenhado naquilo que está fazendo, se sente despreocupado do que isso possa significar àqueles que o assistem.

Ele é responsável por aquilo que fez não pelo que os outros vão entender.

Belo filme.

Deixe um comentário